Drama da OpenAI explicado: o que aconteceu e qual o futuro?
A OpenAI teve uns últimos dias bastante complicados, com altos e baixos, mas sobretudo, grandes mudanças nos seus cargos mais elevados.
A situação começou no final da semana passada, quando o conselho de administração da empresa despediu o então CEO, Sam Altman. Desde então, a empresa já passou por três CEOs diferentes, e uma revolta tanto externa como interna.
As mudanças que se fizeram sentir nos últimos dias podem ter tanto ramificações para o futuro da empresa, como da própria indústria – e ainda se encontra longe de terminar.
A OpenAI sempre se apelidou como uma empresa focada no bem da humanidade, e não nos lucros. No entanto, o drama que se sentiu durante o fim de semana e começo desta semana, veio alterar essa ideia. Ao mesmo tempo, ainda existe muita informação a ser constantemente atualizada, mas para já neste artigo vamos tentar clarificar o que aconteceu.
> Falta de comunicação e falhas
O mês de novembro deveria ter sido um dos mais importantes para a OpenAI, tendo em conta que foi quando a empresa realizou o seu primeiro evento público, o DevDay, focado para revelar novidades da empresa no mundo da IA.
E o evento veio com algumas novidades, como o GPT-4 Turbo e melhorias nos modelos LLM da empresa. A OpenAI pode ser mais conhecida pelo ChatGPT e DALL-E, mas na realidade esta pretende focar-se no desenvolvimento de um largo conjunto de tecnologias que se foquem em criar o que é conhecido como Inteligência Artificial geral, que basicamente será quando as capacidades de um computador consigam igual ou superar as capacidades do ser humano.
Os planos para este objetivo foram deixados claros durante o evento da empresa, mas também levam a mais discussão sobre o futuro da IA e os impactos da mesma em larga escala. Ao mesmo tempo, apesar de a OpenAI ter bases criadas com foco na tecnologia e não nas receitas, a realidade é que a empresa necessita de investimentos para poder realizar os seus avanços.
A OpenAI foi inicialmente criada em 2015, como uma entidade sem fins lucrativos. Mas eventualmente viria a transformar-se numa empresa com fins lucrativos em 2019, de forma a poder aceitar investimentos externos, o que incluiu um grande investimento por parte da Microsoft.
A questão encontra-se que, mesmo sendo uma empresa focada em lucros, o controlo da entidade ainda continua a ser feito por um conselho de administração, gerido pela parte sem fins lucrativos da OpenAI. Este conselho encontra-se, no entanto, interdito de ter controlo sobre os fundos da parte lucrativa da OpenAI.
No entanto, isto ainda deixa um forte controlo para este conselho de administração, que é composto por seis membros no total. Este pode ter decisões de elevado calibre dentro da empresa – entre as quais encontra-se a capacidade de remover outros membros da empresa, como é o caso de Sam Altman.
Foi exatamente isso que terá sido realizado na semana passada, com os membros a decidirem retirar Altman do cargo que ocupava como CEO da empresa – algo de forma inesperada e para surpresa até mesmo dos maiores investidores, como a Microsoft.
Satya Nadella, CEO da Microsoft, terá ficado “furioso”, segundo algumas fontes, depois de saber que Altman tinha sido despedido do cargo. Ao mesmo tempo, vários funcionários da empresa também vieram em defesa de Altman, tanto que existe atualmente um memorando com a ameaça de mais de 500 funcionários para se despedirem caso Altman não volte para o cargo de CEO da entidade.
Inicialmente, o conselho de administração da OpenAI tinha indicado que decidiu remover Altman do cargo por considerar que o mesmo falhava nas comunicações que mantinha com o conselho. No entanto, mais tarde surgiram rumores que a decisão pode ter sido também motivada pelo facto de Altman pretender acelerar o desenvolvimento das tecnologias, e existiam algumas opiniões contraditórias entre a ideia do mesmo e do conselho de administração.
Ilya Sutskever, membro do conselho de administração, terá indicado numa das reuniões que “Foi o conselho de administração que cumpriu o seu dever para com a missão da organização sem fins lucrativos, que é garantir que a OpenAI constrói [inteligência artificial geral] que beneficia toda a humanidade.”
Sutskever acreditava que Altman estaria a “puxar demasiado, e demasiado rápido”, tendo convencido uma grande parte dos restantes membros do conselho a despedir Altman. Com a medida aplicada, Mira Murati foi colocada como CEO interina da empresa.
Várias fontes indicam que a decisão de remover Altman estaria também associada com a popularidade do ChatGPT nos últimos meses, que passou de ser uma plataforma de investigação da tecnologia para algo que é usado no dia a dia por milhares de utilizadores nas mais variadas áreas.
Depois de ter sido confirmada a saída de Altman do cargo de CEO, também Greg Brockman, presidente do conselho de administração, viria a despedir-se do cargo, saindo juntamente com Altman.
> Três CEOs em Três dias
Como seria algo esperado, depois da saída de Altman, a revolta por parte dos funcionários da empresa, investidores e comunidade em geral começou a sentir-se.
Durante o fim de semana, surgiram rumores que Altman estaria em conversações para eventualmente voltar ao cargo de CEO. Para complicar ainda mais a situação, Murati, que estava como CEO interina da empresa, foi substituída por Emmett Shear, cofundador da plataforma de streaming Twitch.
Shear terá sido escolhido exatamente pela sua visão sobre a IA, onde o mesmo acredita que se deve chegar à mesma de forma mais cautelosa e que o desenvolvimento deve desacelerar, algo que vai de encontro com a visão do conselho de administração da OpenAI.
Quanto a Altman, este viria a confirmar que estaria, juntamente com Brockman, a entrar para a Microsoft, dentro da divisão de IA da empresa. Esta noticia foi também confirmada eventualmente pelo CEO da Microsoft, Satya Nadella.
Ao mesmo tempo, mais de 500 dos 750 funcionários da OpenAI assinaram uma carta a exigir a retoma de Altman para o cargo de CEO da OpenAI, ameaçando com despedimento coletivo caso tal não fosse realizado.
A Microsoft, na mesma altura, terá também indicado que daria as boas vindas a todos os funcionários da OpenAI que optassem por sair da empresa. Curiosamente, até mesmo Sutskever, que terá sido uma das pessoas fundamentais para a saída de Altman, terá assinado esta carta – para surpresa de muitos – tendo depois deixado uma mensagem na X sobre como se sentia arrependido das suas ações e das medidas aplicadas pelo conselho de administração.
> A tempestade
Nesta fase, a situação da OpenAI ainda se encontra em atualização. Novas informações estão a surgir, portanto os detalhes podem ser alterados de forma relativamente rápida.
No entanto, ainda existe incerteza relativamente ao futuro.
Numa recente entrevista, o CEO da Microsoft, Nadella, terá deixado em aberto a possibilidade de Altman voltar para a OpenAI, caso o conselho de administração e o próprio assim o pretenda. Mas que, caso isso não aconteça, este terá a porta aberta dentro da Microsoft.
Quanto a Altman, ainda não se conhece as suas intenções, mas depois de todos os incidentes será improvável que o mesmo pretenda voltar para o cargo. No final, uma das vitórias de todo este drama será para a Microsoft, que poderá ter a porta aberta para contratar algumas das maiores personalidades a nível da IA, seja alguns dos cofundadores da OpenAI, como também funcionários da empresa que possam vir a sair da mesma.
Isto poderá ajudar a Microsoft a desenvolver ainda mais rapidamente as suas tecnologias de IA – mesmo sendo parceira direta com milhões de dólares investidos na OpenAI. Ao mesmo tempo, todo o drama pode também causar grandes impactos a nível da industria e do futuro da OpenAI, com o conselho de administração a claramente pretender que a tecnologia seja criada de forma mais segura – e lenta.
Ao mesmo tempo, existe ainda o risco que todo o drama com a OpenAI possa prejudicar a sua credibilidade e imagem junto dos investidores, o que pode levar a dificuldades futuras em obter financiamento.
Shear, o atual CEO da OpenAI, afirma que toda a situação foi mal gerida e comunicada, e o mesmo pretende avançar com uma investigação do que aconteceu. Ao mesmo tempo, este deixou ainda a indicação de que serão realizadas alterações a nível da estrutura de direção da empresa.
No entanto, o futuro da OpenAI ainda é bastante incerto, e todo o drama deixa em aberto um buraco difícil de fechar para a OpenAI, independentemente da conclusão.